terça-feira, setembro 03, 2002
Criadores Internacionais Contestam Encerramento do Edifício dos Artistas Unidos
Por MARIA JOSÉ OLIVEIRA
Público, Terça-feira, 3 de Setembro de 2002
Harold Pinter pede explicações a Santana Lopes
O dramaturgo e encenador britânico Harold Pinter enviou ontem duas declarações de solidariedade com os Artistas Unidos (AU), que, juntamente com diversas produtoras artísticas, viram a sua sede - o edifício A Capital, ao Bairro Alto - ser encerrada por ordem da Câmara Municipal de Lisboa. O despejo aconteceu na última quinta-feira (dia 29) e Pinter, um dos mais conceituados dramaturgos britânicos, manifestou a sua indignação em dois depoimentos enviados a Jorge Silva Melo e ao presidente da autarquia lisboeta, Pedro Santana Lopes. Na missiva destinada ao autarca, Harold Pinter afirma que A Capital "é um dos centros artísticos mais importantes da Europa" e que o "trabalho imaginativo" e a "integridade" das criações ali desenvolvidas "têm sido uma inspiração para muitas pessoas". Lamentando este procedimento "chocante e incompreensível", Pinter reclama a Santana Lopes um "claro depoimento público que justifique esta acção".
Enquanto circula na Internet um abaixo-assinado que contesta a "atitude irreflectida" da câmara e reivindica uma "intervenção imediata" na recuperação do edifício, os AU continuam a receber várias mensagens de apoio, entre as quais se encontram pedidos a Santana Lopes para reconsiderar a sua decisão. O dramaturgo norueguês Jon Fosse traduziu a sua perplexidade, logo na quinta-feira, ao escrever que o despejo é um "escândalo absoluto, impossível de compreender", uma vez que os projectos realizados n'A Capital "colocaram Lisboa no mapa teatral da Europa".
Ao contrário do que havia sido acordado entre a vereadora do Urbanismo, Eduarda Napoleão, e Jorge Silva Melo (ver PÚBLICO do dia 31/08/02), a visita ao Palácio Benagazil - um dos espaços sugeridos pela autarquia para acolher os escritórios -, marcada para ontem, acabou por não se realizar. Até ao final do fecho desta edição, o director da companhia não foi contactado por Eduarda Napoleão, nem lhe foi transmitida qualquer justificação para o adiamento da visita. Fonte do gabinete do Urbanismo explicou ao PÚBLICO que a vereadora teve ontem uma "agenda sobrecarregada", mas, ao fim da tarde, não estava ainda colocada de parte a visita ao Palácio Benagazil: "É natural que ainda vá".
Atendendo à necessidade de encontrar uma sala que possa acolher a peça "Mouchette", de Arne Sierens, com estreia marcada para quinta-feira, Jorge Silva Melo enviou, ontem de manhã, à autarquia um comunicado com uma pequena lista de espaços alternativos. Ao PÚBLICO, Silva Melo adiantou ter apontado a Cordoaria Nacional e a sala grande da Comuna. Para já, a encenadora e actriz Lúcia Sigalho demonstrou disponibilidade em acolher o espectáculo no Armazém do Ferro, espaço cedido à companhia Sensurround.
salamandrine 09:46
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